Que a sua mensagem de trabalho e dedicação a terra e ao homem deste Nordeste torturado, sejam transformadas em ondas, e que encontrem ressonância na compreensão e memória móvel de nossos dirigentes e elites políticas.

(Lauremiro Almeida)

terça-feira, 15 de junho de 2010

O DESAPARECIMENTO DE UM APÓSTOLO DA NATUREZA E DO HOMEM NORDESTINO

Laudemiro L. de Almeida
Correio da Paraíba, sexta-feira, 22 de novembro de 1991

Naquela manhã sombria de uma sexta-feira sobrecarregada de crises que envolvem a sociedade brasileira, atualmente não esperava ver confirmado o sonho que tivera na noite anterior: alguém mostrava-me uma página de jornal intensamente iluminada e aparecia a figura de Lauro Xavier acenando como se estivesse se despedindo. O sonho que tive fora confirmado pelo telefonema que me transmitia o amigo e sei irmão prof. Francisco Xavier. No mesmo dia.

Assim, desaparece do mundo dos vivos o apóstolo da natureza, - sua passagem, suas matas, seus rios, especificamente, a terra torturada de seu Nordeste querido. Desaparece o gladiador intimorato, o lutador e estudioso dos fenômenos naturais, onde a Botânica e a Silvicultura exerciam fascínio em seus estudos científicos. Amava a terra de seus pais - o brejo de Areia - com encantos de namorado, onde vira em sua infância, florescer as mangueiras e os pau-darcos e as raças de cana de açúcar e mandioca nos vales estreitos dos engenhos. A paisagem rural constituía para ele motivo de encantamento e que o limo da terra agreste do brejo parecia espargir-se em sua pele, como calor das soalheiras do Cariri das bromeliáceas, onde fora buscar e pesquisar elementos de estudo de seu livro "O Caroá", era o principal alimento que impregnava sua alma de lutador. Era homem de vida simples e de coração aberto pronto ao acolhimento daqueles deprimidos pelos problemas e sofrimentos que encontrava. Por isso, vivia em seu caminho sem ódio e sem medo, e sempre pronto a ajudar ao próximo. É do conhecimento de professores da EAN que havia alunos que chegaram ao término de seus cursos de Agronomia, os quais contaram com a sua ajuda e seu apoio.

Para comprovar seu amor à Paraíba que não se restringia as coisas corriqueiras, desejo citar sua operosidade em favor da federalização da Escola de Agronomia do Nordeste.

No cumprimento dessa missão acompanhei-o ao Rio de Janeiro numa peregrinação às repartições e gabinetes ministeriais indo até ao Congresso em entendimento pessoal com o presidente Apolônio Sales seu amigo e meu ex-professor na Esa, Pernambuco.

Devo acrescentar que a minha participação no caso tinha o significado de crescer, na ocasião, a diretoria do referido estabelecimento.

Quanto à sua obra "O Caroá'' acima citada, trata-se de monografia editada pelo Ministério da Agricultura contando mapas e zonas de ocorrência da preciosa bromeliácea que terá, no futuro, a sua exploração racional. Pelo valor científico a referida monografia foi reeditada em 1982, pela Empresa de Pesquisa Agropecuária do Rio Grande do Norte, ("Emparn"), como homenagem ao Centenário de Mossoró, RN, cujo lançamento tive honra de assistir em companhia de seu autor.

Certa feita, em uma de suas visitas constantes à Escola indo em direção a um dos "campos de demonstração", hoje, inexistentes em Chã de Jardim deparamo-nos com gigantesco espécie vegetal, que guardava em sua copa inúmeras plantas e parasitas vegetais consideradas por ele como "verdadeiro museu" botânico. Imediatamente, sugeriu o tombamento de arvore tão preciosa para o patrimônio da Escola. E a providência se fez inclusive com a colocação de uma placa com referência do tombamento. Não sabemos, porém, se ainda continua em seu lugar em virtude das múltiplas crises que tem afetado a referida Instituição. E se hoje Lauro retornasse a "sua" escola não encontraria mais o "espírito”, o trabalho de colméia que predominava naquele tempo quanto ao ensino, como no campo. Que me seja permitido concordar, agora, alguns traços da antiga Escola, como o Apiário, a grande produção de Hortaliças e o Pomar cujos bens foram como que destruídos pela voragem e tumultos por que passado a conceituada Escola de Agronomia do Nordeste.

Nao ha estudos detalhados sofre zonas fisiográficas principalmente no Nordeste seco. Na Paraíba muito menos, mas Duque faz referência a uma monografia editada pela "A União", 1959, relativa as "Regiões Fisiográficas'' de autoria de Lauro Xavier publicada em 1959. (O Nordeste e as Lavouras Xerófitas, p.49-Duque, Guimaraes.BNB., 1973).

Acresce, ainda sua constante atividade literária não só nos jornais da Província mas de outros Estados sempre sobre assuntos da Agricultura da região. De acordo com apanhado que fizemos, escrevia ele para os seguintes jornais Diários: A União, A Imprensa, Estado da Paraíba, O Norte, Correio da Paraíba e O Momento, todos da Capital, e o Rebate, Diário da Borborema e Gazeta do Sertão de Campina Grande.

Era colaborador do "Diário de Pernambuco"e Jornal do Comercio, de Recife.

Ultimamente, dedicava-se com entusiasmo e interesses científico aos problemas ecológicos mormente aqueles referentes as Regiões Degradadas, matéria de particular interesse nos estudos do saudoso ecologista Sobrinho e que foi assunto debatido pelo mesmo em Seminário realizado nesta Capital, onde Lauro estava presente. Então, pude assistir o calor com que ambos defendiam os problemas cruciais da Região seca. Poderia, repetir, aqui o que escreveu o nosso poeta Augusto dos Anjos com referencia a morte de seu pai,—Lauro não morreu, vive na serra da Borborema, no ar da minha terra. Também, ele vive no ar da serra da Beatriz que descortinando Areia em majestosa visão, surgem os remanescentes da mata primitiva junto às culturas marginais de cana de açúcar, descendo pelas encostas íngremes dos morros.

Que a sua mensagem de trabalho e dedicação a terra e ao homem deste Nordeste torturado, sejam transformadas em ondas, e que encontrem ressonância na compreensão e memória móvel de nossos dirigentes e elites políticas.

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